Ela era só uma fachineira pobre, mas quando viu aquele menino de 9 anos apontando para ela no meio de cinco mulheres ricas e gritando: “Eu escolho ela para ser minha mãe”, descobriu que às vezes o coração de uma criança enxerga o que os adultos não conseguem ver. “Gabriel, vem cá agora!” Ricardo Almeida estava no quintal da mansão quando decidiu que não dava mais para esperar.
Dois anos sem Mariana já era tempo demais. Aquele menino de 9 anos precisava de uma mãe e ele ia resolver isso hoje mesmo. Gabriel estava brincando sozinho perto da piscina, empilhando pedrinhas, como sempre fazia quando queria ficar invisível. Desde que a mãe teve aquela partida repentina, a criança vivia como um fantasma pela casa.
O que foi, pai? Senta aqui do meu lado que preciso conversar com você. O menino caminhou devagar com aqueles olhos verdes iguais aos da Mariana. Ricardo sentiu o peito apertar, mas logo afastou o pensamento. Não podia ficar nessa para sempre. Filho, você sabe que eu amo você, né? Gabriel só balançou a cabeça. Ultimamente ele falava pouco, sorria menos ainda.

E a mamãe sempre quis que a gente fosse feliz, mesmo depois que ela não pode mais ficar com a gente. Eu sei. Por isso eu decidi uma coisa importante. Você vai ter uma nova mãe. Gabriel parou de mexer nas pedrinhas. Como assim? Já escolhi cinco mulheres maravilhosas. Você vai conhecer todas hoje e me dizer qual você quer que seja sua nova mãe.
O rosto do menino ficou branco. Hoje, hoje mesmo, elas já estão vindo para cá. Gabriel se levantou de uma vez, derrubando as pedrinhas no chão. Eu não quero conhecer ninguém. Claro que quer. São mulheres lindas, ricas, educadas. Uma delas vai cuidar muito bem de você. Eu não preciso de ninguém cuidando de mim.
Ricardo sentiu a irritação subir. Na empresa quando ele falava, todo mundo obedecia na hora. Com o próprio filho não ia ser diferente. Gabriel, para com essa birra. Você nem conhece elas ainda. Não quero conhecer. Eu não quero uma mãe nova. Não é questão de querer, é questão de precisar. Esta casa precisa de uma mulher.
Você precisa de uma mãe. Eu já tive uma mãe! Gabriel gritou com uma raiva que assustou o próprio pai. Ela morreu, lembra? Ou você já esqueceu dela?” A frase cortou Ricardo como uma lâmina. “É claro que não esqueci da sua mãe, mas a vida continua, Gabriel. Para você continua. Para mim parou no dia que ela se foi.” O menino começou a andar em direção ao fundo do quintal, onde tinha umas árvores mais fechadas.
Ricardo segurou o braço dele. Você não vai a lugar nenhum. Vai ficar aqui e conhecer essas mulheres. Me solta. Gabriel tentou se desvencilhar. Você não pode me obrigar. Posso sim. Sou seu pai. Pai de mentira. Pai de verdade não obrigaria o filho a escolher uma mãe falsa. Ricardo sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.
Gabriel conseguiu se soltar e saiu correndo para o fundo do quintal, desaparecendo entre os arbustos. Nesse momento, Ricardo ouviu o barulho de carros chegando. Eram elas, as cinco candidatas, e Gabriel tinha sumido. Helena Santos estava limpando os vidros da sala quando viu aquele desfile de carros caros parando na frente da casa. BMW preta, Mercedes branca, Audi Prata.
Parecia desfile de revista. Helena, Carmen. A governanta apareceu correndo. O patrão mandou avisar. Hoje você fica só na área de serviço, sem aparecer na casa, sem circular por aí. Por quê? Que visita é essa? Carmen baixou a voz. Ele trouxe umas mulheres aqui para o Gabriel conhecer.
Quer escolher uma esposa nova? Helena sentiu o coração apertar. Em seis meses trabalhando naquela casa, tinha se apegado àele menino triste, que vivia perdido numa mansão cheia de gente, mas vazia de amor. Gabriel sempre procurava ela quando o pai não estava, e Helena sempre dava um jeito de escutar as histórias malucas que ele inventava.
E o Gabriel, como ele reagiu? Mal. Fugiu para o quintal e não quer voltar. O patrão está desesperado. Helena olhou pela janela e viu cinco mulheres descendo dos carros. Todas perfeitas demais para ser verdade. Salto alto, roupa de grife, cabelo de salão, pareciam bonecas caras. Coitado do Gabriel. Helena, não se mete nisso.
O patrão já está nervoso. Se souber que você conversa com o menino, vai te mandar embora na hora. Mas Helena não conseguia parar de pensar no Gabriel, onde ele estava no quintal. Estava chorando? estava com medo. Aos 9 anos, aquele menino já tinha perdido a mãe. Agora queriam obrigar ele a escolher uma substituta como se fosse escolher sabor de sorvete.
Pela janela da cozinha, viu Ricardo recebendo as cinco mulheres na entrada. Todas sorrindo, todas fazendo charme, todas de olho na fortuna do viúvo mais rico da cidade. Mas cadê o Gabriel Carmen? Vou só dar uma olhadinha no quintal para ver se as plantas estão regadas. Helena, não vai, não. Fica aqui dentro.
Mas ela já estava saindo pela porta dos fundos. Alguma coisa dentro dopeito dela dizia que Gabriel precisava de ajuda. O quintal da mansão era gigante. Tinha a área da piscina, um gramado enorme e lá no fundo uma parte com árvores e uma pontezinha sobre um riachinho. Foi lá que Helena achou o Gabriel. O menino estava encolhido embaixo da ponte, segurando os joelhos com a cabeça escondida nos braços.
Não estava chorando, mas Helena sentia a tristeza dele como se fosse uma nuvem pesada no ar. Gabriel, você está bem, querido? Ele levantou a cabeça assustado. Quando viu que era Helena, relaxou um pouquinho. Tia Helena, eu não quero voltar para casa. Helena se sentou do lado dele na grama, sem ligar que ia sujar o uniforme.
Que foi que aconteceu? Meu pai quer que eu escolha uma nova mãe entre cinco mulheres que eu nem sei quem são. A voz do menino estava carregada de uma tristeza que não combinava com a idade dele. Helena sentiu vontade de chorar junto. E você não quer uma nova mãe? Eu já tive uma mãe, tia Helena. Ela se chamava Mariana e me amava de verdade. Essas mulheres não me amam.
Elas nem me conhecem. Como você tem certeza? Porque elas estão aqui pelo dinheiro do meu pai, não por mim. Minha mãe de verdade me amou desde antes de eu nascer. Me amou quando eu chorava, quando ficava doente. Me amou sempre. Helena teve que engolir o choro. Com 9 anos, Gabriel entendia coisas que muito adulto fingia não ver.
Seu pai provavelmente está sofrendo também, Gabriel. Às vezes os adultos fazem bobagem quando estão com dor no coração. Ele já esqueceu da mamãe, tirou todas as fotos dela de casa, agora quer me obrigar a chamar uma estranha de mãe. Ele tirou as fotos todas. Disse que era hora de seguir em frente. Mas eu não quero seguir em frente sem a minha mãe.
Helena segurou a mãozinha gelada de Gabriel. Posso te contar um segredo, querido? Pode. Sua mãe não se foi de verdade. Ela continua aqui no seu coração, nas suas lembranças, no jeito que você é carinhoso igual ela era. Gabriel olhou direto nos olhos dela. Tia Helena, toda noite eu converso com a mamãe antes de dormir.
Conto como foi meu dia. Pergunto se ela está bem. E sabe o que ela me falou ontem? O quê? Que quando chegasse a hora de escolher alguém para cuidar de mim, meu coração ia saber. Não ia precisar do papai mandando. Helena sentiu um arrepio. E seu coração está dizendo alguma coisa? Gabriel ficou olhando para ela por uns segundos.
Está dizendo que você é a única pessoa nesta casa que realmente gosta de mim. Nesse momento, a voz de Ricardo ecoou pelo quintal. Gabriel, onde você está? Vem aqui agora. O menino se encolheu. Ele vai me obrigar a escolher. Gabriel. A voz ficava mais perto e mais brava. Helena tomou uma decisão que ia mudar a vida dela para sempre. Fica aqui.
Eu vou conversar com seu pai. Não, tia Helena, ele vai te demitir. Não vai não. Eu não vou deixar ninguém te machucar, Gabriel. Prometo. Helena se levantou, sacudiu a terra do uniforme e foi encontrar Ricardo. Achou ele perto da piscina, vermelho de raiva, com as cinco mulheres do lado observando tudo. Senr.

Ricardo, Helena, que diabos você está fazendo aqui? Mandei ficar na cozinha. O Gabriel está escondido no quintal. Ele não quer conhecer essas senhoras. Onde ele está? Ricardo deu um passo na direção dela, tentando intimidar. Ele está assustado, senhor. É uma criança de 9 anos que ainda sente falta da mãe. Uma das mulheres, uma morena de vestido azul, deu risada.
Que drama. É só pirraça de menino mimado. Helena se virou para a mulher com uma frieza que surpreendeu ela mesma. A senhora tem filhos? Não. Mas então não fale do que não entende. Ricardo ficou roxo de raiva. Helena, como você tem coragem de falar assim com minhas convidadas? Só estou defendendo o Gabriel.
Ele é uma criança que precisa de carinho, não de pressão. Ele precisa aprender que eu sou o pai e ele obedece. Ele precisa de amor, Sr. Ricardo, não de obediência na marra. O silêncio no quintal ficou pesado. As cinco mulheres observavam a briga com cara de quem estava assistindo novela. Uma empregada estava batendo boca com o patrão milionário na frente delas. “Você está demitida.
” Ricardo falou entre os dentes. Não a voz de Gabriel cortou o ar. Todo mundo se virou. O menino tinha saído do esconderijo e vinha correndo, o rosto vermelho de tanto chorar. Não demite a tia Helena. Ela é a única que me entende nesta casa. Gabriel parou na frente de Helena e agarrou na saia do uniforme dela, igual criança pequena faz quando quer proteção.
Gabriel, vem aqui imediatamente. Ricardo ordenou. Não vou. Vou ficar com a tia Helena. Uma das mulheres morena, de vestido vermelho, murmurou para as outras. Que situação constrangedora. A criança é mal educada mesmo. Gabriel ouviu e se virou para ela com uma raiva que impressionou todo mundo. A senhora não sabe nada sobre mim.
A senhora só está aqui porque quer o dinheiro do meu pai. Gabriel. Ricardo gritou, mas o menino continuou apontandoo dedo para Helena. Se é para eu escolher, eu já escolhi. Eu escolho a tia Helena para ser minha nova mãe. O quintal ficou em silêncio de morte. As cinco candidatas ficaram de boca aberta. Ricardo ficou branco que nem papel. Helena sentiu o chão sumir debaixo dos pés e Gabriel continuou gritando com toda a força do pulmão.
É ela que eu quero. Ela que se importa comigo de verdade. Se vocês querem uma escolha, aqui está. Eu escolho a tia Helena. Você perdeu completamente o juízo, Gabriel. Ricardo estava roxo de raiva. As cinco mulheres continuavam ali paradas, de boca aberta, sem acreditar que uma criança de 9 anos tinha escolhido a empregada doméstica no lugar delas.
“Eu não perdi juízo nenhum”, Gabriel respondeu ainda grudado na saia de Helena. Eu sei exatamente o que estou falando. A morena do vestido azul soltou uma risada nervosa. Ricardo, isso é claramente uma birra infantil. A criança está confusa. Confusa nada. Gabriel se virou para ela com os olhos brilhando de raiva. A senhora é que não entende nada.
Gabriel, você vai parar com isso agora. Ricardo berrou. Pede desculpa para as senhoras e vem aqui comigo. Não vou pedir desculpa para quem não merece. Helena tentou acalmar. Gabriel querido, você cala a boca. Ricardo explodiu para Helena. Você não fala mais nada. Está demitida e ponto final. Não. Gabriel gritou tão alto que até os vizinhos devem ter ouvido.
Se ela sair, eu saio junto. A mulher do vestido amarelo murmurou para as outras. Que situação constrangedora. Acho melhor irmos embora. Não, por favor. Ricardo tentou segurar a situação. O menino só está nervoso. Vamos entrar, tomar um café, conversar com calma. Mas Gabriel não estava nem um pouco calmo. Ele soltou a saia de Helena e foi direto para a frente das cinco mulheres.
Vocês querem saber porque eu não escolho nenhuma de vocês? Gabriel. Ricardo tentou interromper. Deixa o menino falar”, disse a mulher de vermelho, curiosa. Gabriel respirou fundo. “Porque vocês nem sabem como eu me chamo direito. Vocês sabem que comida eu gosto? Sabem que eu tenho pesadelos todas as noites. Vocês só sabem que meu pai é rico.
” A loira do vestido verde cruzou os braços. “Óbvio que não sabemos essas coisas ainda. Acabamos de nos conhecer.” “Pois é, vocês querem casar com meu pai sem nem me conhecer.” E a tia Helena me conhece há seis meses. Ela sabe que eu gosto de empilhar pedrinhas, sabe que eu tenho medo do escuro, sabe que eu converso com a minha mãe toda a noite.
Helena sentiu o peito apertar. Aquele menino estava defendendo ela com todas as forças. Isso é ridículo a morena do azul falou. Uma empregada não tem capacidade para educar uma criança de família rica. Ela nem tem estudo adequado. E vocês têm coração, Gabriel rebateu. Porque estudo eu posso aprender em qualquer lugar, mas coração bom que nem da tia Helena é difícil de achar.
A mulher ficou sem resposta. Ricardo estava perdendo o controle total. Chega, Gabriel, para o seu quarto agora. Helena, pega suas coisas e sai da minha casa. Pai, você não me escuta? Gabriel gritou com lágrimas descendo pelo rosto. Você nunca me escuta. A mamãe me escutava. Sua mãe morreu, Gabriel. Ela não volta mais. Eu sei que ela morreu.
O menino berrou. Mas isso não quer dizer que eu tenho que aceitar qualquer uma no lugar dela. O quintal ficou em silêncio. Todo mundo estava chocado com a explosão de Gabriel. A mulher do vestido vermelho tociu. Ricardo, acho que o menino precisa de acompanhamento psicológico. Isso não é normal. Normal é ter uma mãe.
Gabriel gritou para ela. A senhora tem filhos? Não. Mas então não fala do que não sabe. Ricardo agarrou Gabriel pelo braço. Você vai parar de ser mal educado agora. Ai, você está me machucando. Helena deu um passo à frente sem pensar. Senhor Ricardo, ele é apenas uma criança e você é apenas uma empregada.
Uma empregada que claramente passou dos limites com meu filho. Eu só Você só o quê? Encheu a cabeça dele com ideias malucas, fez ele se apegar em você para causar essa confusão? Helena ficou branca. Senhor, eu jamais faria isso. Mentira. Ricardo explodiu. Durante seis meses. Você manipulou meu filho. Aproveitou que ele é uma criança carente para virar a cabeça dele.
Isso não é verdade. Gabriel conseguiu se soltar do pai. Para de gritar com ela. A tia Helena nunca fez nada de errado. Fez sim. Ela se aproveitou de você. Ela me ajudou. Gabriel estava soluçando. Quando eu tinha pesadelo, ela vinha conversar comigo. Quando eu estava triste, ela me escutava.
Onde você estava, pai? Onde você estava? A pergunta ecoou pelo quintal como um tiro. Ricardo ficou sem resposta. As cinco mulheres se entreolharam, claramente desconfortáveis. A loira do amarelo falou baixinho para as outras. Essa situação está muito pesada. Vamos embora. Não. Ricardo se desesperou. Vocês não podem ir. Eu resolvo isso.
Mas elas já estavam caminhando para os carros, murmurandoentre si. Em 5 minutos, os três carros de luxo sumiram portão aa. Ricardo ficou parado no meio do quintal, vendo sua chance de resolver a vida ir embora. Quando se virou, estava com uma raiva que Gabriel nunca tinha visto. Pronto, você conseguiu. Mandou todas embora.
Eu não mandei ninguém. Elas foram embora sozinhas. Foram embora por sua culpa, por causa dessa confusão que você criou. Helena tentou falar. Senr. Ricardo, você não fala mais nada. Ele berrou para ela. Pega suas coisas agora e sai da minha casa. Não quero ver você aqui nunca mais. Não.
Gabriel se jogou na frente de Helena. Ela não vai. Vai sim. E você vai para o seu quarto e não sai mais de lá. Eu não vou. Ricardo agarrou Gabriel pelo braço e começou a puxar ele para dentro de casa. O menino se debatia chorando, gritando, pedindo socorro. Tira a mão de mim. Eu quero a tia Helena. Esquece essa mulher. Ela manipulou você.
Helena estava parada, sem saber o que fazer. Queria ajudar Gabriel, mas se intrometesse, ia piorar tudo. Senr. Ricardo uma voz gritou do portão. Todo mundo se virou. Era Carmen, a governanta, correndo em direção a eles. O que está acontecendo aqui? Estou ouvindo grito lá da cozinha. Carmen, leva essa mulher para pegar as coisas dela.
Quero ela fora da minha casa em 10 minutos. Carmen olhou para Helena, depois para Gabriel, se debatendo nos braços do pai, depois para Ricardo, transtornado de raiva. Senhor, o que a Helena fez? Ela envenenou a cabeça do meu filho, fez ele se apegar nela para causar confusão. Isso não é verdade, Carmen. Helena finalmente conseguiu falar.
Eu só cuidei do Gabriel quando ele precisava. Mentira. Ricardo berrou. Gabriel aproveitou a distração e conseguiu se soltar. Correu para Helena e agarrou ela pela cintura. Tia Helena, não me deixa, por favor. Helena abraçou o menino, sentindo ele tremer de soluços. Gabriel. Promete que não vai embora. Ricardo avançou para separar os dois, mas Carmen se colocou no meio.
Senhor Ricardo, se acalma. Olha o estado da criança. Gabriel estava tendo uma crise. Chorava sem parar, tremia, não conseguia respirar direito. Eu não, eu não consigo respirar. Ele conseguiu falar entre os soluços. Helena se ajoelhou na altura dele. Gabriel, respira comigo devagar. Inspira. Espira. Não consigo. Carmen ficou preocupada.
Senhor, ele está tendo uma crise de ansiedade. Crise de ansiedade? Ele tem 9 anos. Crianças também t, senhor. Principalmente crianças que passaram por perdas. Ricardo olhou para o filho, se descontrolando nos braços de Helena e pela primeira vez sentiu medo. Gabriel estava roxo de tanto chorar, suando frio, tremendo. “Gabriel!” Ele tentou se aproximar.
“Não, o menino gritou. Você vai mandar ela embora, filho. Você não liga para mim, só liga para o trabalho. A acusação atingiu Ricardo em cheio, mas ele estava com muito orgulho ferido para admitir. “Carmen, chama um médico”, ele ordenou. “Não precisa de médico”, Helena disse suavemente, ainda abraçando Gabriel. Ele só precisa se acalmar.
Gabriel, escuta a tia Helena, você está seguro. Ninguém vai te machucar. Aos poucos, Gabriel parou de tremer. A respiração voltou ao normal, mas ele não soltava Helena. Pronto, meu querido. Passou. Helena murmurou. Ricardo observou a cena. Em se meses, nunca tinha visto o filho ter uma crise daquelas e nunca tinha visto Helena conseguir acalmar ele daquele jeito.
Mas o orgulho ferido falou mais alto. Carmen, leva a Helena para pegar as coisas. Quero ela fora daqui em uma hora. Gabriel levantou a cabeça dos braços de Helena. Se ela for, eu vou junto. Você não vai a lugar nenhum. Você fica aqui. Então eu fujo. Se fugir, eu chamo a polícia. Gabriel olhou para o pai com uma tristeza que partiu o coração de Helena.
Você me odeia mesmo, né, pai? Eu não te odeio. Odeia sim. Desde que a mamãe morreu, você me odeia. Por isso, trabalha o tempo todo. Por isso quer me dar para qualquer mulher cuidar. por isso, tira as fotos da mamãe de casa. Ricardo ficou sem palavras. Gabriel se virou para Helena. Tia Helena, muito obrigado por ter cuidado de mim. Eu nunca vou esquecer.
E saiu andando para dentro de casa devagar, como um velhinho cansado. Helena ficou ali no quintal com o coração partido, vendo aquele menino de 9 anos carregar uma dor que não cabia no peito pequeno dele. “Carmen”, Ricardo disse com a voz rouca. ajuda ela a arrumar as coisas. E entrou para casa, deixando Helena sozinha no quintal, onde uma hora atrás tinha sido escolhida por Gabriel para ser a mãe dele.
Agora estava demitida, desprezada e perdendo para sempre o menino que tinha aprendido a amar como filho. Três dias se passaram desde que Helena foi embora. Três dias que pareceram 3 anos para Gabriel. O menino não saía do quarto, não falava com ninguém, mal tocava na comida. Carmen subia com as refeições e descia com os pratos cheios.
“Senor Ricardo,” ela tentou conversar no segundo dia. “O Gabriel não está comendo nada. Ele comequando tiver fome.” Ricardo respondeu sem levantar os olhos do computador. “Faz dois dias que ele não fala uma palavra. Vai passar? É birra.” Mas Carmen sabia que não era birra. O menino estava defininhando, se consumindo de tristeza e Ricardo estava fingindo que não via.
Na manhã do terceiro dia, o telefone tocou. Era Verônica Aguiar, a morena do vestido azul. Ricardo querido, como você está? Ah, oi, Verônica. Estou bem. Estive pensando muito no que aconteceu na sua casa. Que situação terrível você passou, não é mesmo? Ricardo suspirou. Foi constrangedora mesmo. Desculpa por isso. Imagina, querido. Não foi culpa sua.
Foi daquela empregada manipuladora. Como assim? Ora, Ricardo, está na cara que ela planejou tudo. Seis meses enchendo a cabeça da criança, se fazendo de coitadinha, ganhando a confiança do menino. Tudo calculado. Ricardo parou de digitar. Você acha? Tenho certeza. Mulher pobre vê um homem rico, viúvo, com filho pequeno, já sabe a oportunidade que tem pela frente.
Aposto que ela estava mirando em você desde o primeiro dia. Ela sempre foi muito dedicada ao trabalho. Claro que era. Fazia parte do plano. Ricardo, você é um homem inteligente nos negócios, mas às vezes é ingênuo demais com pessoas. As palavras de Verônica fizeram sentido na cabeça confusa de Ricardo. Talvez ela tivesse razão.
Talvez Helena realmente tivesse manipulado Gabriel. Sabe o que eu acho? Verônica continuou. Você deveria dar uma segunda chance para nós. Sem aquela mulher causando confusão, tenho certeza que o Gabriel vai nos aceitar melhor. Não sei, Verônica. Ele ficou muito alterado. Por isso mesmo. A mente da criança foi envenenada. precisa de tempo para se limpar.
Que tal eu e as meninas voltarmos lá no fim de semana sem pressão, só para conversar. Ricardo hesitou. Ele não está falando com ninguém há três dias. Exato. Está sentindo falta da manipulação. Quando perceber que aquela mulher não volta mais, vai precisar de alguém para ocupar o vazio. Aí entramos nós. Fazia sentido. Pelo menos na cabeça de Ricardo fazia.
Tá bom. Podem vir sábado à tarde. Perfeito, querido. E Ricardo? Sim, dessa vez seja mais firme com o Gabriel. Criança precisa de limites. Se ele fizer birra, você mostra quem manda. Quando desligou, Ricardo se sentiu mais confiante. Talvez Verônica estivesse certa. Talvez Helena realmente tivesse manipulado Gabriel.
E agora ele precisava corrigir a situação. Enquanto isso, no quartinho de empregada que alugara numa pensão barata, Helena não conseguia parar de pensar em Gabriel. Como ele estava? Estava comendo? Estava tendo pesadelos? Quem consolava ele quando acordava chorando? Tentou ligar para Carmen algumas vezes, mas o telefone da casa não atendia.
ou Ricardo havia proibido as funcionárias de falar com ela. Na quinta-feira à noite, quando estava voltando do supermercado, viu Carmen na parada de ônibus. Carmen! Ela correu na direção da governanta. Helena, que susto. Carmen olhou para os lados, nervosa. Não posso falar com você. Se o patrão souber, como está o Gabriel? Carmen baixou a voz. Mal, muito mal.
Não come, não fala, não sai do quarto, está defininhando. Helena sentiu o coração apertar. E o Senr. Ricardo finge que não vê. Diz que é birra, mas eu sei que não é. Helena, o menino está sofrendo de verdade. Preciso fazer alguma coisa. Não pode. Ele proibiu você de chegar perto da casa.
Se souber que você veio aqui, me demite também. O ônibus de Carmen chegou. Ela subiu rapidamente, mas antes gritou pela janela: “As mulheres voltam sábado?” Helena ficou parada na calçada, processando a informação. As cinco candidatas iam voltar e Gabriel estava debilitado, sem forças para se defender. Ia ser um massacre. Sábado chegou.
As cinco mulheres apareceram na casa de Ricardo pontualmente às 3 da tarde. Dessa vez vieram mais preparadas. tinham conversado entre elas durante a semana e bolado uma estratégia. “Ricardo querido,” Verônica disse quando chegaram. “Trouxemos presentes para o Gabriel para quebrar o gelo. Que boa ideia! E conversamos muito sobre a situação.
Entendemos que a criança foi vítima de manipulação. Não vamos cobrar nada dele hoje.” Ricardo as levou para a sala. Gabriel não havia descido. Carmen subiu para chamá-lo três vezes, até que finalmente apareceu no topo da escada. Helena ficaria chocada se visse. Em três dias, o menino tinha emagrecido. Estava pálido, com olheiras fundas.
Parecia doente. Gabriel, vem cá, filho. As tias vieram te fazer uma visita. O menino desceu devagar, arrastando os pés. Sentou numa poltrona afastada, de cabeça baixa, sem cumprimentar ninguém. Oi, Gabriel. Verônica falou com voz doce demais. Trouxemos presentes para você. Gabriel levantou os olhos, mas não disse nada.
Olha só, a loira do vestido verde, que hoje usava azul, mostrou uma caixa grande. Um videogame novinho em folha. Gabriel olhou para a caixa sem interesse. E eu trouxe isso. A morena dovermelho, hoje de rosa, mostrou uma bicicleta caríssima para você passear no quintal. E eu trouxe roupas lindas. A outra loira, de branco hoje mostrou sacolas de grife e eu trouxe livros educativos.
A última, vestido lilás, empilhou livros na mesa. Gabriel olhou tudo sem falar nada, depois levantou e falou a primeira coisa em três dias. Cadê a tia Helena? Silêncio na sala. Gabriel. Ricardo disse com a voz dura. Esquece essa mulher. Ela não volta mais. Por quê? Porque ela não era boa para você. Era sim, não era.
Ricardo explodiu. Ela manipulou você, fez você se apegar nela para causar confusão. Gabriel olhou para o pai com os olhos marejados. Isso não é verdade. É sim. E agora você vai conhecer direito essas senhoras. Uma delas vai ser sua nova mãe. Eu não quero nenhuma delas. Verônica se inclinou para Gabriel. Querido, sei que você está confuso.
Aquela mulher fez você acreditar em mentiras sobre nós. Que mentiras? Que nós só queremos o dinheiro do seu pai? Que nós não gostamos de você? Isso é mentira, Gabriel. Nós queremos muito ser sua família. Gabriel olhou para ela com uma expressão que não combinava com seus 9 anos.
Se vocês gostam tanto de mim, por que ninguém perguntou como eu estou? A pergunta pegou todo mundo desprevenido. Como assim, querido? Faz três dias que eu não como direito. Faz três dias que eu não durmo. Vocês sabiam disso? As mulheres se entreolharam sem saber o que responder. Vocês sabem que eu choro todas as noites, que eu tenho pesadelos com a minha mãe, que eu sinto falta dela todos os dias. Gabriel.
Ricardo tentou interromper. Vocês sabem que a tia Helena era a única pessoa nesta casa que perguntava como eu estava quando acordava triste, que ela era a única que me escutava quando eu queria falar da mamãe. As cinco mulheres ficaram desconfortáveis, não esperavam por aquela conversa. Gabriel, a loira de azul tentou.
Nós podemos aprender a cuidar de você. Aprender? Gabriel se levantou da poltrona. Vocês querem aprender a gostar de mim? A tia Helena não precisou aprender. Ela gostava de mim desde o primeiro dia. Isso porque ela estava interessada no seu pai. Verônica disse sem pensar. Mentira, Gabriel gritou. A tia Helena nunca tentou conquistar meu pai.
Ela só cuidava de mim quando eu precisava. Ricardo se levantou também. Gabriel, para com isso. Não vou parar. Vocês mandaram a única pessoa que se importava comigo embora e agora querem que eu finja que gosto de vocês. A mulher de rosa se levantou irritada. Olha, Ricardo, essa criança está impossível. Precisa de disciplina séria. Tem razão.
Ricardo concordou. Gabriel, vai para o seu quarto agora. Vou mesmo e não desço mais. Gabriel subiu as escadas correndo. Momentos depois, todos ouviram a porta bater com força. Ricardo Verônica disse, você precisa ser mais duro com ele. Criança não pode mandar na casa. Eu sei. Desculpem por isso. Não se desculpa.
A loira de azul falou. A culpa é daquela empregada manipuladora, mas com tempo e firmeza você conserta isso. E enquanto isso, a de Rosa sugeriu: “Que tal você escolher uma de nós? Não precisa ser o Gabriel, você é o pai. Você decide. Ricardo olhou para as cinco mulheres, todas lindas, todas ricas, todas dispostas a se casar com ele.
Era exatamente o que ele queria três dias atrás. Então, por que se sentia tão vazio? Vou pensar. Ele disse, preciso de um tempo. Quando elas foram embora, Ricardo subiu para o quarto de Gabriel. Bateu na porta, mas não teve resposta. Girou a maçaneta, mas estava trancada. Gabriel, abre a porta. Silêncio, Gabriel. Nada.
Ricardo ficou ali parado no corredor, percebendo pela primeira vez que talvez tivesse cometido um erro terrível, mas o orgulho não deixava ele admitir. Do outro lado da porta, Gabriel estava encolhido na cama, abraçando um urso de pelúcia que tinha ganhado da mãe no último aniversário. Chorava baixinho para ninguém ouvir.
“Mamãe!”, Ele sussurrou para o urso. A tia Helena se foi. O papai mandou ela embora. E agora eu estou sozinho de novo. O urso não respondeu, mas Gabriel fingiu que sim. Eu sei que você não gosta, que eu fico triste, mas eu não consigo parar. Eu gosto muito da tia Helena e agora ela não pode mais cuidar de mim. Gabriel fechou os olhos e tentou dormir, mas sabia que os pesadelos iam voltar e dessa vez não tinha ninguém para consolá-lo.
Lá embaixo, Ricardo estava na biblioteca tentando trabalhar, mas não conseguia se concentrar. As palavras de Gabriel ecoavam na cabeça dele. Vocês querem aprender a gostar de mim? Era uma pergunta simples, mas que mexeu com algo profundo dentro dele. Será que Helena realmente tinha manipulado Gabriel? Ou será que ela realmente se importava com o menino? E mais importante, será que ele, Ricardo, tinha sido um péssimo pai esses dois anos todos? Mas essas perguntas eram difíceis demais para responder.
Era mais fácil culpar Helena por tudo e seguir em frente com o planooriginal. Afinal, ele era um homem de negócios. E nos negócios, quando você toma uma decisão, não volta atrás, mesmo que essa decisão esteja destruindo seu próprio filho. Uma semana depois da visita das cinco mulheres, Gabriel estava pior, muito pior. Carmen subiu para levar o café da manhã e encontrou o menino desmaiado no banheiro.
Senhor Ricardo! Ela gritou desesperada. Vem aqui rápido. Ricardo largou tudo e subiu correndo. Quando viu Gabriel no chão, pálido, desacordado, sentiu o mundo girar. O que aconteceu? Não sei. Vim trazer o café e encontrei ele assim. Ricardo pegou o filho no colo. Gabriel estava leve demais, quente demais. Chama o médico agora. Dr.
Henrique chegou em 20 minutos e examinou Gabriel na própria cama. O menino tinha acordado, mas estava fraco, apático, sem vontade de falar. “Ricardo, preciso conversar com você.” O médico disse depois de examinar a criança. Desceram para a biblioteca. O que ele tem, doutor? Fisicamente, desnutrição, desidratação, exaustão.
Mas o problema não é físico, Ricardo. Como assim? Seu filho está com depressão infantil, severa. Ele está se deixando morrer de tristeza. Ricardo sentiu um soco no estômago. Depressão. Ele tem 9 anos. Crianças também ficam deprimidas, especialmente quando passam por perdas significativas. Mas a mãe dele morreu há do anos.
Não estou falando só da mãe, estou falando de perdas recentes. Carmen me contou que vocês tiveram uma empregada que cuidava muito bem dele. Ricardo ficou tenso. Helena, mas ela foi embora porque estava manipulando o menino. Dr. Henrique o encarou sério. Ricardo, conheço você desde que Gabriel nasceu.
Posso falar a verdade? Claro. Essa mulher estava manipulando a criança ou você não conseguiu aceitar que alguém conseguia cuidar do seu filho melhor que você? A pergunta atingiu Ricardo como um tiro. Como assim? Em dois anos, quantas vezes você subiu no quarto do Gabriel quando ele estava chorando? Eu trabalho muito, doutor.
Carmen me disse que essa Helena subia toda vez, que ela conhecia os pesadelos dele, as manias dele, os medos dele. Isso é manipulação ou cuidado? Ricardo ficou em silêncio. E outra coisa, Carmen disse que as cinco candidatas à esposa voltaram aqui. Como Gabriel reagiu? Mal. Disse que não queria nenhuma delas. E você achou que era birra? Achei. Dr.
Henrique balançou a cabeça. Ricardo, seu filho está morrendo de tristeza. Literalmente morrendo. Se não fizer alguma coisa rápido, pode ter complicações sérias. Que tipo de complicações? Hospitalização, sonda para alimentação, acompanhamento psiquiátrico intensivo. Ricardo ficou branco. É tão grave assim? É. E a solução não é remédio.
A solução é devolver para essa criança o que ela mais precisa. no que ela mais precisa, alguém que realmente se importe com ela, não por dinheiro, não por interesse, por amor. Quando o médico foi embora, Ricardo ficou sozinho na biblioteca, processando tudo que havia ouvido. Subiu para ver Gabriel, que estava dormindo, mas mesmo dormindo, parecia estar sofrendo.
Nesse momento, o telefone tocou. Era Verônica. Ricardo querido, como você está? Não, muito bem, Verônica. Aconteceu alguma coisa? Gabriel desmaiou hoje de manhã. Médico disse que é depressão. Ai, meu Deus, coitadinho. Eu e as meninas estávamos conversando sobre vocês. Queremos ajudar. Como? Pensamos numa coisa. Que tal se uma de nós vier morar aí por uns dias? Para cuidar do Gabriel, fazer ele se acostumar com nossa presença.
Ricardo hesitou. Não sei se é boa ideia, Ricardo. A criança precisa de uma figura materna e nós estamos aqui disponíveis, querendo ajudar. É só escolher uma de nós. Deixa eu pensar. Pensa nada. Eu vou aí hoje à noite. Vou cuidar do Gabriel até ele melhorar. E desligou antes de Ricardo poder protestar.
Às 8 da noite, Verônica chegou com duas malas. Vim para ficar alguns dias. Onde fica o quarto de hóspedes? Carmen mostrou o quarto e ajudou com as malas. Mas estava preocupada. Conhecia a Gabriel há anos e sabia que a presença de Verônica só ia piorar tudo. Senr. Ricardo ela tentou conversar. Tem certeza que isso é uma boa ideia, Carmen? Gabriel precisa de uma mãe.
Verônica se ofereceu para ajudar, mas Gabriel não gosta dela. Vai ter que gostar. Não tem outra opção. Verônica desceu para o jantar como se já fosse dona da casa. usava um vestido de seda caro e estava claramente fazendo charme para Ricardo. “Gabriel, não vai jantar conosco?”, ela perguntou. “Ele está sem apetite há dias.” Ricardo explicou. “Deixa comigo.
Vou subir lá e conversar com ele.” Verônica, ele está muito debilitado. Por isso mesmo, precisa de firmeza. Criança não pode mandar na casa. Verônica subiu para o quarto de Gabriel contra a vontade de Ricardo. Bateu na porta e entrou sem esperar resposta. Gabriel estava na cama, abraçado com o urso de pelúcia, olhando para o teto. Oi, Gabriel.
Vim fazer uma visita para você. O meninoolhou para ela sem falar nada. Soube que você não está se alimentando direito. Isso não pode continuar, viu? Silêncio, Gabriel. Estou falando com você. É falta de educação não responder quando um adulto fala. Eu não pedi para a senhora subir aqui. Gabriel disse baixinho.
Não importa. Eu vim porque me importo com você. Gabriel olhou para ela com uma expressão cansada. A senhora não se importa comigo. Claro que me importo. Por quê? A pergunta pegou Verônica desprevenida. Como assim? Por quê? Por que a senhora se importa comigo? O que a senhora sabe sobre mim? Sei que você é um menino inteligente.
Isso qualquer um vê. Que mais? Verônica ficou sem resposta. Gabriel continuou. A senhora sabe que cor eu mais gosto? Sabe que comida eu não como de jeito nenhum? Sabe porque eu tenho pesadelos? Sabe como era a voz da minha mãe? Gabriel, essas coisas a gente vai aprendendo com o tempo. A tia Helena sabia tudo isso. Em uma semana de trabalho aqui, ela já sabia.
Esquece essa mulher, ela não era boa para você. Gabriel se sentou na cama, irritado pela primeira vez em dias. Como a senhora pode falar que ela não era boa se a senhora nem conhecia ela? Eu conheço o tipo dela, mulher pobre que se aproveita de família rica. A tia Helena nunca se aproveitou de nada. Ela cuidava de mim porque gostava. Gostava do dinheiro do seu pai.
Gabriel ficou de pé, tremendo de raiva. A senhora é mentirosa, Gabriel. Verônica se levantou também. Não fale assim comigo. Vou falar sim. A senhora não conhece a tia Helena? Ela é boa. A senhora é que só quer o dinheiro do meu pai. Você é um menino mal educado e mimado. E a senhora é uma falsa. Verônica, sem se controlar, deu um tapa na cara de Gabriel.
O estalo ecoou pelo quarto. Gabriel ficou em choque com a mão na bochecha vermelha, os olhos cheios de lágrimas de humilhação e dor. “A senhora bateu em mim?” Ele sussurrou. Verônica percebeu o que havia feito e tentou consertar. “Gabriel, desculpa, eu não queria. Você me irritou e eu” Mas Gabriel já estava correndo para fora do quarto aos gritos. Papai, papai.
Ricardo estava terminando o jantar quando ouviu o filho gritando. Gabriel desceu as escadas correndo e se jogou nos braços dele, soluçando. O que aconteceu? Ela me bateu, pai. A mulher me bateu. Ricardo olhou para Verônica, que havia descido atrás de Gabriel com cara de culpada. Verônica, isso é verdade, Ricardo? Foi sem querer.
O menino me desrespeitou, disse coisas horríveis. Você bateu no meu filho? Foi só um tapinha. Ele estava sendo mal educado. Ricardo sentiu uma raiva que nunca havia sentido na vida. Como você tem coragem de bater na minha criança? Ricardo? Calma, calma. Você bateu no Gabriel. Gabriel estava grudado no pai, chorando, com a marca da mão ainda vermelha no rosto.
Sai da minha casa Ricardo disse com uma frieza que assustou até ele mesmo. Como? Sai da minha casa agora, Ricardo. Vamos conversar. Não tem conversa. Pega suas coisas e sai. Verônica tentou argumentar, mas Ricardo estava fora de si. Em 15 minutos, ela estava na rua com as malas, chamando um táxi. Quando ficaram sozinhos, Ricardo levou Gabriel para a sala e examinou o rosto dele.
Dói muito. Gabriel balançou a cabeça que não, mas continuou chorando. Por que ela te bateu? Porque eu defendi a tia Helena. Ricardo sentiu um aperto no peito. Defendi. Como? Ela disse que a tia Helena só queria dinheiro. Eu disse que era mentira. Aí ela ficou brava e me bateu. Gabriel, você tem certeza que Helena se importava realmente com você? O menino olhou para o pai com os olhos vermelhos de tanto chorar. Tenho, pai.
Ela era a única pessoa que perguntava se eu estava bem. A única que me escutava quando eu queria falar da mamãe. Por que você nunca me contou essas coisas? Porque você nunca tinha tempo para escutar? A resposta doeu mais que qualquer tapa. Ricardo abraçou o filho e, pela primeira vez em dois anos, realmente prestou atenção no que Gabriel estava dizendo. Filho, me perdoa.
Eu fui um péssimo pai. Você não é péssimo, pai. Você só esqueceu como cuidar de mim depois que a mamãe se foi. E agora? O que a gente faz? Gabriel olhou para ele com esperança pela primeira vez em semanas. A gente traz a tia Helena de volta. Ricardo ficou em silêncio. Seu orgulho gritava que não, que Helena era apenas uma empregada.
Mas olhando para o filho machucado, desnutrido, deprimido, percebeu que talvez o orgulho não fosse mais importante que a felicidade de Gabriel. Onde ela está morando agora, não sei, mas a Carmen deve saber. Ricardo chamou Carmen, que estava na cozinha, fingindo que não havia escutado toda a confusão. Carmen, você sabe onde Helena está? Carmen hesitou.
Sei, senhor. Ela está numa pensão no centro da cidade. Você tem o endereço? Tenho. Por quê? Ricardo olhou para Gabriel, que o observava com os olhos cheios de esperança. Porque amanhã de manhã vou buscar ela. Gabriel sorriu pela primeiravez em duas semanas. E naquele sorriso, Ricardo viu que tinha tomado a decisão mais importante da sua vida.
Não por orgulho, não por conveniência, mas por amor ao filho. Ricardo não dormiu a noite inteira. ficou sentado na poltrona do quarto de Gabriel, observando o filho dormir. Pela primeira vez em dois anos, realmente olhou para aquele menino. Viu como estava magro, pálido, como parecia frágil demais para a idade, como ele tinha conseguido ser tão cego.
Gabriel mexeu na cama e murmurou: “Tia Helena, não vai embora.” Estava sonhando ou tendo pesadelo. Ricardo se aproximou e tocou a testa do filho. Estava quente, suado. O menino abriu os olhos assustado. Pai, estou aqui, filho. Você estava sonhando. Gabriel se sentou na cama, ainda confuso. Sonhei que a tia Helena voltava, mas aí ela ia embora de novo. Gabriel, olha para mim.
O menino olhou. Eu vou buscar Helena hoje de manhã. Vou pedir desculpas para ela e vou pedir para ela voltar. Gabriel arregalou os olhos. Sério, pai? Sério. Mas preciso que você me ajude numa coisa. No quê? Preciso entender o que eu fiz de errado. Preciso que você me conte como foi viver aqui depois que sua mãe se foi.
Gabriel ficou quieto por alguns segundos, como se estivesse organizando os pensamentos. Depois começou a falar: “Quando a mamãe morreu, você sumiu, pai. Como assim sumiu? Eu estava trabalhando. Você estava fugindo. Fugindo de mim. Fugindo das lembranças. Fugindo de tudo. Ricardo sentiu como se tivesse levado um murro no peito. Nos primeiros meses.
Eu chorava toda a noite. Sabe quem vinha me consolar? Carmen. Você nunca subiu aqui uma vez. Gabriel, deixa eu terminar, pai. Quando eu fazia aniversário, quem organizava a festinha? Carmen. Quando eu ficava doente, quem ficava comigo? Carmen, quando eu tinha pesadelos, quem me acalmava? Ninguém.
Eu ficava sozinho até passar. Cada palavra era como uma facada no coração de Ricardo. Aí chegou a tia Helena. Na primeira semana, ela percebeu que eu acordava chorando. Sabe o que ela fez? O quê? Perguntou se eu queria conversar. Simples assim. Ninguém nunca tinha perguntado isso antes. E você conversou? Conversei, contei que sentia a falta da mamãe, que tinha medo que você fosse embora também, que me sentia sozinho numa casa cheia de gente.
Ricardo tinha os olhos cheios de lágrimas. Por que você nunca me contou isso? Porque toda vez que eu tentava falar da mamãe, você mudava de assunto. Toda vez que eu chorava, você mandava eu ser forte. Toda vez que eu precisava de você, você estava trabalhando, filho. A tia Helena não fazia isso.
Ela deixava eu chorar quanto eu quisesse. Deixava eu contar histórias da mamãe. E sabe o que ela disse que mais me ajudou? O quê? Que sentir saudade não era fraqueza. Que chorar por quem a gente ama era normal? Que a mamãe ficaria orgulhosa de ver como eu amava ela. Ricardo desabou a chorar. Dois anos de culpa, de dor reprimida.
de péssimas decisões saíram numa enchurrada de lágrimas. Me perdoa, Gabriel. Me perdoa por ter sido um pai tão ruim. Gabriel se aproximou e abraçou o pai. Você não é ruim, pai. Você só estava com dor igual eu. Mas agora a gente pode se ajudar. Como? Você para de fugir de mim e eu para de ter medo de falar com você.
Ricardo abraçou o filho como não fazia há dois anos. Ali naquele quarto, uma coisa se curou entre eles. Não tudo, mas o suficiente para recomeçar. Pai, Gabriel disse depois de alguns minutos. Você acha que a tia Helena vai me perdoar? Por que ela não perdoaria? Você não fez nada de errado, mas ela deve estar magoada. Você a demitiu. Disse coisas feias para ela.
Ricardo suspirou. É, eu disse mesmo. Fui muito injusto. Então você precisa pedir desculpas de verdade. Vou pedir. E se ela não quiser voltar? Gabriel ficou triste. Aí a gente vai ter que aceitar. Mas pelo menos ela vai saber que a gente sente muito. Às 7 da manhã, Ricardo tomou banho, se arrumou e pediu para Carmen preparar um café da manhã especial.
Queria levar alguma coisa para Helena como um gesto de paz. Carmen, você acha que ela vai me perdoar?”, ele perguntou enquanto a governanta preparava uma cesta com pães, bolos e café. “Depende de como o senhor for falar com ela.” Carmen respondeu: “Helena é uma boa pessoa, mas ela tem dignidade. Se o senhor for lá só para mandar, ela não vai aceitar.
E se eu for para pedir perdão?” Aí talvez ela escute. Ricardo pegou a cesta e saiu para o carro. Gabriel queria ir junto, mas estava fraco demais para sair de casa. Traz ela de volta, pai, por favor. Vou trazer, filho, prometo. A pensão onde Helena estava morando ficava numa parte antiga do centro da cidade. Um prédio simples, meio descascado, muito diferente da mansão dos Almeida.
Ricardo estacionou na frente e ficou parado alguns minutos, tentando encontrar coragem. Subiu para o terceiro andar e bateu na porta do quarto 305. Quem é? A voz de Helena do outro lado da porta. Sou eu, Ricardo. Silêncio total. Helena,por favor, preciso falar com você. A porta se abriu devagar. Helena apareceu vestindo um vestido simples, o cabelo solto, sem maquiagem.
Mesmo assim estava linda. Mas o que mais impressionou Ricardo foi a expressão dela. Não era raiva, não era mágoa, era uma tristeza profunda. “O que o senhor quer aqui?”, ela perguntou, mas sem abrir completamente a porta. Quero pedir perdão. Helena ficou surpresa. Em duas semanas de trabalho para Ricardo, nunca havia visto ele pedir perdão por nada.
Perdão por quê? Por tudo. Por ter-te demitido injustamente, por ter acreditado que você estava manipulando Gabriel, por ter tratado mal. Helena abriu a porta um pouco mais, mas não convidou ele para entrar. E o que mudou? Por que o senhor está aqui agora? Ricardo respirou fundo. Gabriel está doente. Depressão infantil.
O médico disse que ele está se deixando morrer de tristeza. Helena ficou pálida. Depressão. Mas ele tem 9 anos. Pois é. E sabe o que mais o médico disse? Que a solução não é remédio, é devolver para Gabriel o que ele mais precisa. Que é? Ricardo olhou diretamente nos olhos dela. Alguém que realmente se importe com ele.
Alguém como você? Helena baixou os olhos. Senr. Ricardo, e tem mais. Ontem à noite, uma das candidatas bateu no Gabriel. Bateu? Helena levantou a cabeça bruscamente. Como assim bateu? Deu um tapa na cara dele porque ele te defendeu. Os olhos de Helena se encheram de lágrimas. Ela bateu no Gabriel por causa de mim. bateu.
E foi nesse momento que eu percebi o quanto eu estava errado, o quanto eu fui cego, orgulhoso, estúpido. Helena abriu a porta completamente. Entra. Vamos conversar. O quarto era pequeno, simples, mas limpo e organizado. Uma cama, uma cômoda, uma mesa pequena. Ricardo se sentiu mal vendo Helena morando daquele jeito, quando ela poderia estar na casa confortável que ele oferecia.
Helena, eu preciso te contar uma coisa. O quê? Gabriel me contou tudo. Como você cuidava dele quando ele tinha pesadelos? Como você escutava ele falar da mãe? Como você era a única pessoa que realmente prestava atenção nele. Helena se sentou na cama, ainda processando a informação de que Gabriel estava doente. Eu sempre soube que ele era carente.
Qualquer pessoa com um pouco de sensibilidade perceberia, mas eu não percebi porque o senhor estava sofrendo também. A morte da esposa mexeu com o senhor de um jeito que o senhor nunca conseguiu processar direito. Ricardo ficou surpreso com a compreensão dela. Como você sabe? Porque eu já passei por isso.
Já perdi alguém importante e sei como a dor pode deixar a gente cego para tudo ao redor. E mesmo assim você cuidou do Gabriel porque ele precisava e porque Helena hesitou. Por que o quê? Porque eu me apeguei a ele de um jeito que não esperava. Em seis meses, ele virou como um filho para mim. Ricardo sentiu o coração apertar.
Helena, eu vim aqui te oferecer seu emprego de volta. Como empregada? Como como o que você quiser ser empregada, governanta, babá, parte da família, o que você decidir. Helena ficou em silêncio, pensativa. Helena, o Gabriel está morrendo de saudade sua. Literalmente morrendo. Ontem ele desmaiou de fraqueza. Não come, não fala, não sai do quarto.
Você é a única pessoa que pode salvá-lo. E o senhor mudou de ideia sobre mim? Ricardo baixou a cabeça envergonhado. Mudei. Percebi que você nunca quis me manipular ou manipular Gabriel. Você simplesmente se importava com ele de verdade. E as cinco candidatas, todas dispensadas para sempre. Percebi que Gabriel tinha razão.
Elas queriam meu dinheiro, não minha família. Helena se levantou e foi até a janela pequena do quarto. Ficou olhando a rua movimentada lá embaixo. Senor Ricardo, posso fazer algumas perguntas? Claro. Se eu voltar, o senhor vai me respeitar como pessoa, não como empregada, mas como alguém que cuida do Gabriel porque gosta dele. Vou.
Vai parar de trabalhar tanto e passar mais tempo com seu filho? Vou. Já percebi que Gabriel precisa de mim tanto quanto precisa de você. E se no futuro o senhor conhecer outra mulher e quiser se casar, vai lembrar que Gabriel tem opinião sobre isso? Ricardo pensou na pergunta. Vou. Aliás, Helena, sim.
Gabriel disse ontem que você é a única pessoa que ele quer como mãe. E observando vocês dois juntos, percebi que vocês têm uma conexão real. Helena se virou para ele. O que o senhor está querendo dizer? Ricardo ficou vermelho. Não havia planejado aquela conversa, mas as palavras saíram sozinhas. Estou dizendo que talvez Gabriel tenha razão.
Talvez você seja exatamente o que nossa família precisa, senor Ricardo. Não como empregada, Helena, como parte da família de verdade. Helena ficou sem palavras. Não esperava por aquilo. Eu sei que parece loucura. Ricardo continuou. Dois dias atrás, eu achava que você era uma manipuladora.
Hoje percebo que você pode ser a resposta para todos os nossos problemas. Que resposta? Gabriel precisade uma mãe que o ame de verdade. Eu preciso de alguém que me ajude a ser um pai melhor. E você? Você precisa de uma família que te valorize. Helena sentou na cama novamente, overwhelmed pela conversa. Isso é muito rápido, Senr. Ricardo, muito confuso. Eu sei.
Não estou pedindo uma resposta agora. Estou pedindo para você voltar, cuidar do Gabriel, nos dar uma chance de mostrar que mudamos. E se não der certo? Se não der certo, você sai quando quiser, com todo respeito e toda a compensação que merecer. Helena ficou em silêncio por longos minutos. Ricardo esperou ansioso.
Está bem, ela disse finalmente. Vou voltar. Ricardo sentiu um alívio enorme. Sério? Sério? Mas não pelo senhor, por causa do Gabriel. Se ele está doente, ele precisa de mim. É só isso que importa. Você aceita uma carona? Helena olhou ao redor do quarto simples, onde havia passado as duas semanas mais tristes da vida. Aceito.
Deixa eu só pegar minhas coisas. Em 10 minutos estava com a mala pequena na mão, pronta para voltar para uma casa que nunca imaginou que fosse sentir tanta falta. Helena, Ricardo disse quando estavam descendo as escadas. Obrigado. Pelo quê? Por dar uma segunda chance para nossa família. Senr. Ricardo, posso ser sincera? Claro.
Eu também senti muito a falta de vocês, principalmente do Gabriel. Ricardo sorriu pela primeira vez em semanas. Então vamos para casa cuidar dele. Vamos. E pela primeira vez, os dois saíram daquele prédio, não como patrão e empregada, mas como duas pessoas que queriam a mesma coisa, ver Gabriel feliz novamente. Gabriel estava na janela do quarto quando viu o carro do pai entrando na garagem.
Seu coração disparou. Será que Helena estava junto ou Ricardo tinha voltado sozinho com a notícia de que ela não quis perdoar? Carmen subiu correndo. Gabriel, seu pai chegou. Ele trouxe a tia Helena. Não sei, meu querido. Vamos descer para ver. Gabriel desceu as escadas devagar, com as pernas bambas de nervoso e fraqueza.
Parou no meio da sala e esperou. A porta da frente se abriu e Ricardo entrou sozinho. O coração de Gabriel despencou. Ela não quis voltar. Ricardo sorriu. Que pressa essa? nem deixou eu entrar direito. Pai, por favor, ela estava junto ou não? Por que você não pergunta para ela mesmo? Nesse momento, Helena apareceu na porta com a mala na mão e um sorriso tímido no rosto.
Tia Helena. Gabriel gritou e saiu correndo, se jogando nos braços dela. Helena largou a mala e abraçou o menino como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Os dois ficaram ali grudados. chorando, rindo, falando ao mesmo tempo. Eu pensei que você não ia mais voltar. Gabriel soluçava.
Eu também pensei isso, Helena admitiu, mas não conseguia parar de pensar em você. Você sentiu minha falta? Senti muita falta. Falta das suas histórias, falta das suas perguntas, falta de cuidar de você. Gabriel se afastou um pouco para olhar para ela. Você está diferente. Diferente como? Mais triste. Eu te deixei triste. Helena sorriu através das lágrimas.
Um pouquinho, mas agora estou feliz de novo. Carmen, que estava assistindo a cena da porta da cozinha, também estava chorando. Que bom que a senhora voltou, Helena. Esta casa estava morta sem a senhora. Ricardo observou a reunião em silêncio. Vendo Gabriel nos braços de Helena, percebeu como havia sido idiota.
A conexão entre os dois era real, pura, verdad. Como ele pode achar que aquilo era manipulação? Tia Helena, Gabriel disse ainda grudado nela. Você vai ficar para sempre agora? Helena olhou para Ricardo, que a sentiu encorajador. Vou ficar o tempo que você quiser que eu fique, então é para sempre, porque eu nunca vou querer que você vá embora. Combinado.
Gabriel finalmente soltou Helena e correu para o pai. Obrigado, pai. Obrigado por trazer ela de volta. Ricardo abraçou o filho. Não me agradece. Eu que devia ter feito isso antes. O importante é que agora nós somos uma família de novo. A palavra família ecoou pela sala. Ricardo e Helena se entreolharam, ambos pensando na conversa que haviam tido na pensão.
Gabriel Ricardo disse, a tia Helena acabou de chegar. Que tal deixar ela descansar um pouco? Não, quero mostrar um monte de coisa para ela. Tia Helena, vem no meu quarto. Tenho que contar tudo que aconteceu. Helena riu. Tá bom. Mas só se você prometer que depois vai almoçar direito. Prometo. Agora que você voltou, eu vou comer tudo.
Os dois subiram juntos. Gabriel falando sem parar. Helena, escutando cada palavra como se fosse a coisa mais importante do mundo. Ricardo ficou na sala, observando-os subir. Carmen se aproximou. Senor Ricardo, o senhor fez a coisa certa? Espero que sim, Carmen. Fez. Esta casa virou um cemitério depois que a Helena saiu.
Agora já voltou a ter vida. Carmen, posso te perguntar uma coisa? Claro. Você acha que Helena pode realmente se tornar parte desta família? Não como empregada, mas como como mãe do Gabriel. Carmen sorriu. Senhor, ela já émãe do Gabriel, só falta oficializar. E como minha como minha esposa, isso já é com o senhor.
Mas posso dizer uma coisa? Fale. Em 20 anos trabalhando aqui, nunca vi o Senhor tão humano quanto ficou hoje. Helena não vai fazer bem só para o Gabriel, vai fazer bem para o Senhor também. No quarto de Gabriel, Helena estava escutando o relato detalhado de tudo que aconteceu na ausência dela. E aí a mulher me bateu na cara. Gabriel contava indignado.
Meu Deus, ela realmente te bateu? Bateu? Olha, ainda tem a marquinha. Gabriel mostrou a bochecha, onde ainda havia uma leve vermelhidão. Helena tocou o rosto dele com cuidado. Doeu muito? Doeu? Mas sabe o que doeu mais? O quê? Ela ter falado mal de você, disse que você só queria o dinheiro do papai. E você defendeu mim? Defendi.
Disse que ela era mentirosa, que você gostava de mim de verdade. Helena abraçou Gabriel novamente. Você é o menino mais corajoso que eu conheço. Tia Helena, posso te contar um segredo? Sempre pode. Quando você foi embora, eu conversei com a mamãe todas as noites. Conversou como? Gabriel pegou o urso de pelúcia que ganhara da mãe.
Eu falava com ela através do ursinho. Contava que estava triste, que sentia sua falta. E o que ela respondia? Ela disse que você ia voltar, que você gostava muito de mim e não ia me abandonar. Helena sentiu os olhos se encherem de água. Sua mamãe estava certa. Eu sei. Ela sempre sabe das coisas lá do céu.
Gabriel, posso te fazer uma pergunta? Claro. Como você se sentiria se eu não fosse mais só sua babá ou empregada da casa? Como assim? Helena escolheu as palavras com cuidado. Como você se sentiria se eu fizesse parte da família de verdade? Gabriel arregalou os olhos. Como esposa do papai, Helena corou. Tipo isso. Você vai casar com meu pai? Gabriel gritou de alegria. Não grita.
Ainda não sabemos isso. Estou só perguntando como você se sentiria. Gabriel ficou pensativo por alguns segundos. Tia Helena, posso ser muito sincero? Sempre. Desde que você chegou aqui, eu imagino como seria se você fosse minha mãe de verdade. Imagina como Imagino você me dando boa noite todo dia, me levando na escola, cuidando de mim quando eu fico doente.
Imagino a gente sendo uma família de verdade. E como você se sente imaginando isso? Gabriel sorriu o sorriso mais bonito que Helena já tinha visto. Feliz, muito feliz. Então, se um dia isso acontecer, quando acontecer, Gabriel corrigiu, vai ser o dia mais feliz da minha vida. Helena abraçou o menino emocionada. Você é muito especial, Gabriel.
Você também é especial, tia Helena. Por isso eu escolhi você naquele dia no quintal. Você lembra disso? Lembro de tudo. Você estava com medo. Eu estava com medo, mas meu coração sabia que você era a pessoa certa. Seu coração sabia? Sabia? Igual a mamãe sempre dizia, o coração nunca erra quando a gente ama alguém de verdade.
Helena ficou emocionada com a sabedoria daquela criança de 9 anos. Gabriel, agora que eu voltei, preciso que você me prometa uma coisa. O quê? Que você vai conversar comigo sempre que estiver triste ou com medo? Que você não vai guardar as coisas só para você? Prometo. E você promete que não vai embora de novo? Prometo.
Aconteça o que acontecer, eu sempre vou estar aqui para você. Mesmo se o papai brigar com você. Mesmo se o papai brigar comigo. Mesmo se aparecer outras mulheres querendo casar com ele. Helena riu. Principalmente se aparecerem outras mulheres. Gabriel riu também. Tia Helena, sim. Eu te amo. Era a primeira vez que Gabriel dizia essas palavras para Helena.
Ela sentiu o coração explodir de emoção. Eu também te amo, Gabriel. muito. Ama como se eu fosse seu filho. Amo como se você fosse meu filho de verdade. Gabriel ficou radiante. Então você já é minha mãe no coração e você já é meu filho no coração. Os dois ficaram abraçados, selando um amor que havia nascido naturalmente e que nada no mundo conseguiria destruir.
Lá embaixo, Ricardo estava na biblioteca quando ouviu risadas vindo do quarto de Gabriel. Era a primeira vez que ouvia o filho rir de verdade em meses. Subiu devagar e ficou parado na porta entreaberta, observando. Helena e Gabriel estavam na cama folando um álbum de fotos. Esta aqui é a mamãe grávida de mim, Gabriel explicava. Que linda.
Ela estava. Parece que estava muito feliz. Estava. O papai sempre conta que ela ficou felicíssima quando soube que eu estava vindo. E aqui quando você nasceu? Aqui somos nós três no hospital. Olha como o papai está sorrindo. Ricardo observou a cena e percebeu algo que nunca havia notado. Helena não estava tentando substituir Mariana.
Ela estava honrando a memória dela, ajudando Gabriel a manter viva a lembrança da mãe. “Tia Helena,” Gabriel disse, “Quando você casar com o papai, você vai ser minha segunda mãe. A mamãe Mariana vai continuar sendo minha primeira mãe. Exatamente. Ninguém nunca vai ocupar o lugar da sua mamãe Mariana.
Eu vou serum amor novo, diferente, igual o papai sempre fala, o coração tem lugar para muito amor.” Ricardo sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Helena estava ensinando para Gabriel algo que ele mesmo não havia conseguido aprender, que amar novamente não significa esquecer quem se foi. Bateu na porta. Posso entrar? Papai, vem ver as fotos com a gente.
Ricardo se sentou na cama com os dois. Pela primeira vez em dois anos, conseguiu olhar para as fotos de Mariana sem sentir apenas dor. Olha esta foto, pai. Gabriel mostrou uma imagem de Mariana grávida. A tia Helena disse que a mamãe estava muito feliz aqui. Estava mesmo. Ela mal conseguia esperar para você nascer.
E esta aqui do meu primeiro aniversário? Esta foi uma festa linda. Sua mãe fez questão de convidar todas as crianças da vizinhança. Helena observou pai e filho conversando sobre Mariana naturalmente, sem dor, sem culpa. Era exatamente isso que Gabriel precisava. Papai, Gabriel disse depois de algum tempo, posso te fazer uma pergunta? Claro.
Você gosta da tia Helena? Ricardo olhou para Helena, que ficou vermelha. Gosto muito dela, Gabriel. Gosta como amiga ou gosta como a mamãe? A pergunta direta de Gabriel deixou os dois adultos sem palavras. Gabriel, Helena começou. É uma pergunta importante”, Gabriel insistiu. “Porque se vocês gostam um do outro, podem namorar e depois casar e aí nós vamos ser uma família completa.
” Ricardo e Helena se entreolharam. A simplicidade de Gabriel fazia tudo parecer mais fácil. “Gabriel, Ricardo disse cuidadosamente, essas coisas levam tempo.” “Quanto tempo?” “Não sei. Depende de muita coisa”. Gabriel ficou pensativo. Papai, posso dar minha opinião? Pode. Vocês dois já se gostam.
Eu vejo no jeito que vocês se olham e a gente já vive como família. Então, por que não oficializa logo? Helena riu da lógica simples do menino. Não é tão simples assim, Gabriel. Por que não é? Porque seu pai e eu nos conhecemos há pouco tempo. Seis meses não é pouco tempo. E além disso, o que importa não é tempo.
O que importa é se vocês se amam de verdade. Ricardo ficou impressionado com a sabedoria do filho. E como você sabe se as pessoas se amam de verdade? Fácil. Quando elas cuidam da outra, quando se preocupam, quando ficam felizes juntas, igual vocês fazem. Helena e Ricardo se olharam novamente. Gabriel não estava errado. Gabriel, Ricardo disse, que tal deixarmos as coisas acontecerem naturalmente? Tá bom, mas eu já dou minha aprovação para o casamento.
Os três riram juntos. Pela primeira vez em dois anos, aquela casa conhecia uma felicidade genuína. Agora, Helena disse, que tal descermos para almoçar? Você prometeu que ia comer direito? Vou comer agora que minha família está completa. Eu tenho fome de novo. Gabriel saltou da cama com uma energia que não demonstrava há semanas.
Desceu correndo, gritando para Carmen que estava com fome. Helena e Ricardo ficaram sozinhos no quarto. Helena, Ricardo disse, obrigado. Por quê? por me devolver meu filho e por me ensinar que é possível amar novamente sem trair quem se foi. Helena sorriu. Gabriel que me ensinou isso. Crianças têm uma sabedoria que nós adultos perdemos.
Helena, o que Gabriel disse ali sobre nos casarmos? É como você se sente em relação a isso? Helena respirou fundo, assustada, feliz, confusa, tudo ao mesmo tempo. Por que assustada? Porque aconteceu muito rápido. Ontem eu era sua empregada demitida. Hoje estou sendo tratada como futura esposa. E por que feliz? Porque porque eu me apaixonei por vocês dois, por esta família.
Ricardo se aproximou dela. Helena, posso ser honesto? Claro, eu também me apaixonei. Não sei quando, não sei como, mas me apaixonei pela mulher que devolveu a felicidade para o meu filho e que me ensinou a ser pai de novo. Helena sentiu o coração acelerar. Ricardo, sei que é cedo, sei que é complicado, mas não consigo fingir que não sinto.
E o que você sente? Que você é exatamente o que eu e Gabriel sempre precisamos? Que você não chegou aqui por acaso? que talvez a Mariana tenha mandado você para cuidar de nós. Helena ficou emocionada com as palavras dele. Você realmente acredita nisso? Acredito. Gabriel escolheu você naquele dia no quintal, mas agora eu entendo que meu coração também escolheu. Papai, tia Helena.
A voz de Gabriel gritou lá debaixo: “Cadê vocês? A comida está pronta!” Os dois riram. “Vamos.” Helena disse: “Seu filho está com fome.” “Nosso filho.” Ricardo corrigiu. Helena sorriu. Nosso filho. Desceram juntos de mãos dadas pela primeira vez. Gabriel viu e começou a bater palmas. Eu sabia. Eu sabia que vocês iam ficar juntos.
Carmen apareceu da cozinha sorrindo. Que alegria! Esta casa precisava de amor de novo. Durante o almoço, Gabriel não parava de falar. contou para Helena sobre a escola, sobre os amigos, sobre os planos para o aniversário que estava chegando. Tia Helena, você vai estar aqui no meu aniversário? Claro que vou.
E você vaime ajudar a organizar a festa? Se você quiser. Quero. E papai, você também vai ajudar? Ricardo sorriu. Vou sim, filho. Então vai ser a primeira festa que nós três vamos organizar juntos. Depois do almoço, Gabriel quis mostrar o quintal para Helena, como se ela nunca tivesse visto. Olha, tia Helena, foi aqui que eu te escolhi naquele dia.
Foi mesmo? Você lembra exatamente onde foi? Gabriel correu para um ponto específico perto da piscina. Foi aqui. Eu estava aqui. Você estava ali e eu apontei para você e disse que queria você como minha mãe. Ricardo observou a cena. E você ainda quer? Claro que quero agora mais ainda. Helena se ajoelhou na altura de Gabriel.
Gabriel, se um dia eu realmente virar sua mãe oficial, você promete que sempre vai lembrar da mamãe Mariana? Prometo. Ela vai ser minha mãe do coração que está no céu e você vai ser minha mãe do coração que está aqui comigo. E tem lugar no seu coração para as duas. Gabriel abriu os braços. Meu coração é gigante, tem lugar para todo mundo que eu amo. Ricardo abraçou Helena por trás.
Então está decidido? O que está decidido? Gabriel perguntou curioso. Ricardo olhou para Helena, que a sentiu sorrindo. Que em breve vamos oficializar nossa família. Siério! Gabriel gritou e saiu correndo pelo quintal. Carmen, Carmen, o papai vai casar com a tia Helena. Carmen apareceu na porta da cozinha rindo. Que bom, menino. Que bom.
Gabriel voltou correndo e abraçou os dois ao mesmo tempo. Agora sim. Agora nós somos uma família completa de verdade. Ricardo olhou para o céu azul da tarde. Mariana, nossa família está completa de novo. Obrigado por ter mandado Helena para nós. Helena olhou para cima também. Obrigado, Mariana. Vou cuidar muito bem do seu menino.
Gabriel olhou para os dois adultos. Ela está vendo, né? A mamãe está feliz lá do céu. Está sim. Ricardo confirmou. Tenho certeza que está. E ali, naquele quintal onde tudo começou, uma nova família se formou, não substituindo o que se perdeu, mas construindo algo novo e lindo sobre a base do amor verdadeiro. Seis meses depois, numa cerimônia simples, mas emocionante no próprio quintal da casa, Ricardo e Helena se casaram.
Gabriel foi o pagem mais orgulhoso do mundo, carregando as alianças com um sorriso que iluminava toda a festa. Agora oficialmente, ele disse quando os noivos se beijaram: “Eu tenho a melhor família do mundo”. E enquanto os convidados aplaudiam, Helena olhou para o céu e sussurrou: “Obrigada, Mariana. Prometo que vou amá-los para sempre”.
O vento balançou as árvores do quintal, como se Mariana estivesse dando sua bênção final. A empregada, que foi escolhida por uma criança de 9 anos, tinha se tornado não apenas esposa e mãe, mas a pessoa que trouxe de volta a felicidade para uma família quebrada. E Gabriel. Gabriel cresceu sabendo que havia duas mulheres especiais em sua vida.
Mariana, que o amou primeiro e para sempre, e Helena, que o amou. O amor verdadeiro não substitui, multiplica. Fim da história.





